Entrevista com Alberto Giacomelli: A desnazificação do pensamento de Nietzsche e sua liberdade radical contra a servidão ideológica

“As referências nietzschianas à aristocracia e sua crítica ao socialismo e à democracia representaram terreno fértil para as distorções da ideologia fascista”, argumenta o filósofo italiano Alberto Giacomelli na entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, tomando em consideração suas pesquisas em andamento junto à Università degli Studi di Padova (UNIPD), na Itália, onde leciona. Nesse sentido, a obra de Giorgio Colli e Mazzino Montinari cumpre o papel fundamental de “inaugurar a desnazificação do pensamento de Nietzsche e restituir, em sua totalidade, toda a complexidade de seu pensamento, de modo algum irredutível a estreitas leituras político-reacionárias”. Essa empreitada teve continuidade com os esforços de Giuliano Campioni e Maria Cristina Fornari, para a editora Adelphi, e assim “o texto nietzschiano resulta, por um lado, desnazificado e, por outro, liberto de interpretações ‘superestruturadas’ que caracterizaram a chamada Nietzsche-renaissance francesa a partir do início da década de 1960”. Se por um lado Nietzsche não pode ser considerado um pensador “democrático”, seus escritos apontam de modo claro “na direção da liberdade de pensamento, da crítica a qualquer forma de subserviência ideológica e da independência dos estreitos laços da ideologia. O próprio exemplo de vida de Nietzsche é o de um peregrino sem pátria, de um viandante e de um espírito livre que renuncia aos vínculos de sua terra natal para se tornar Heimat-los, um ser apátrida” [ mais ]